Transtornos Alimentares afetam cerca de 10 milhões de pessoas no Brasil

Os diagnósticos de TA tem crescido no mundo todo. Precisamos entender melhor suas razões, como tratá-los corretamente, e os motivos de serem mais comuns em mulheres

Transtornos alimentares (TA) são quadros psiquiátricos doentios em que a pessoa tem uma relação difícil com a alimentação e um comprometimento sobre a percepção do próprio corpo. O diagnóstico de TA pode ter origem multifatorial, ou seja, ser originado por diversas causas. “A doença leva a consequências físicas ruins, como o baixo peso ou o sobrepeso, ou ainda o funcionamento biológico prejudicado, afetando principalmente os sistemas cardíacos e neurológicos”, explica a doutora Bruna Boaretto, psiquiatra especializada em TA e colaboradora do AMBULIM, programa de Tratamento de Transtornos Alimentares realizado pelo SUS, ligado a USP.

Além de extremamente graves, estudos mostram que os transtornos alimentares se manifestam em grande parte da população mundial. Nos Estados Unidos, aproximadamente 30 milhões de pessoas sofrem com algum tipo de transtorno alimentar. Desses 30 milhões, 70% não contam com assistência de um profissional especializado para ajudar a combater a doença. “Pode-se fazer um paralelo no mundo e no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 5% da população brasileira sofre com esses transtornos – cerca de 10 milhões de pessoas. As causas podem ser psíquicas, provocadas por fatores socioculturais, fatores hormonais ou ainda, genéticos. Já se sabe que pode haver um componente genético em muitos casos de TA, e estudos estão sendo aprofundados nesse sentido”, fala Boaretto.

Conheça as principais causas

São três os transtornos alimentares de maior incidência: a Anorexia Nervosa, caracterizada pelo medo intenso de engordar, acompanhada de uma distorção da imagem corporal. Essas pessoas apresentam comportamento alimentar restritivo, comem pouco e normalmente buscam formas de gastar energia com exercícios físicos ou até mesmo fazendo uso de auto medicações; a Bulimia Nervosa, que em muito se assemelha à anorexia, com o diferencial de que as pessoas alternam períodos de abstinência ou pouca alimentação com outros de compulsão alimentar, e na maioria dos casos utilizam de métodos purgativos como provocar o vómito, e o uso de laxantes para perder peso; e o Transtorno da Compulsão Alimentar, que é o descontrole alimentar caracterizado pelo consumo excessivo de comida, mesmo sem apetite, como se fosse um vício, acarretando em sobrepeso e outras consequências nocivas ao organismo.

“Existem outros três transtornos, problemáticos, mas que possuem incidência menor. O Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE), que não está relacionado a distorção da imagem corpórea como os supracitados, mas sim a uma seletividade alimentar muito grande, acarretando uma grave deficiência nutricional. Há também o transtorno chamado Pica, também conhecido como alotriofagia, onde o indivíduo come o que não é comestível, como gelo, areia e terra; praticando o que chamamos de Picacismo. E ainda há a Ruminação, onde a pessoa cospe o alimento após mastigá-los ou regurgita e volta a mastigar. Esses dois últimos trazem prejuízos maiores na esfera social, isolando ainda mais quem sofre com eles, por conta da vergonha que tem de si próprios ao apresentarem esse comportamento”, explica Boaretto.

Gatilho

Como já foi mencionado, são várias as possibilidades que podem levar a um transtorno alimentar (TA). “Relacionamentos familiares conturbados, personalidades próprias, temperamento inflexível, valorização da magreza, incentivada pelas mídias sociais, baixa autoestima, depressão, ansiedade, bullying, enfim são inúmeros fatores que podem levar a um transtorno alimentar. Mas é muito importante ressaltar que o principal gatilho são os programas de dieta.

Podemos afirmar que nem toda a pessoa que faz dieta terá um TA, mas toda a pessoa que tem um transtorno alimentar, fez ou faz um programa de emagrecimento”, alerta a psiquiatra.

Diante desse cenário, o tratamento tem que ser realizado por uma equipe multidisciplinar, especializada no tema, que pode basicamente ser composta por psiquiatras, nutricionistas e psicólogos, e, eventualmente, complementada por fisioterapeutas, educadores físicos e enfermeiras.

“A primeira coisa a fazer é uma investigação profunda, para se entender as razões que motivaram esse tipo de comportamento. É importante afirmar que transtornos alimentares não apresentam padrões, e tudo é muito particular. Depois disso, é preciso reconduzir o paciente a voltar a ter um hábito alimentar normal, o chamado tratamento nutricional. Reaprender a comer sem restrições, mas também sem abusos. Respeitar horários e não pular refeições. Alguns medicamentos podem ajudar nesse processo. Por fim, o tratamento comportamental, ajudando a pessoa a conhecer suas possibilidades e seus limites”, afirma Boaretto.

Mais em mulheres

O fato de elementos socioculturais terem tudo a ver com o tema, explica a razão dos transtornos alimentares serem mais comuns em mulheres. Por serem mais cobradas por conta da estética, isso as torna mais suscetíveis a desenvolverem a doença. “De cada quatro pessoas com TA, três são mulheres. Somos muito mais cobradas com essa questão estética do que os homens. O que eu aconselho para a sociedade em geral, especialmente para as famílias e amigos, é que se faça uma prevenção. Evitar o chamado “Fat Talk” (conversa sobre gordura), onde se valoriza demais o emagrecer, o engordar, o feio e o bonito. É necessário valorizar outros aspectos. E, reforço, é preciso muito cuidado com a prática de dietas. Elas aprisionam, impõem regras, tiram a autonomia alimentar, tudo o que uma pessoa suscetível a ter um TA não precisa”, completa a psiquiatra.

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